Serão todos os acidentes acidentais?

Para uma criança, o mundo dos adultos é cheio de “rasteiras” e a sua curiosidade inata bem como a ausência de noção de consequência origina que muitas crianças sejam alvo de “acidentes”. Isto leva-me à definição de acidente: acontecimento inesperado e inevitável que causa dano físico, emocional ou material.
Dito isto, serão todos os “acidentes” com crianças verdadeiros acidentes?

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A criança que se entala com gravidade numa porta de casa… é um acidente? O adulto que partilha a casa com a criança não poderia ter aquela porta protegida ou faltou a supervisão?
Não pensem com isto que sou apologista das crianças viverem em redomas e sem perigos por perto, mas se é certo que a criança deve ser ensinada a proteger-se quando está próxima de um possível perigo é mais certo ainda que compete ao adulto, prever, proteger e evitar os “acidentes” possíveis. Logo devemos ter noção de todos os perigos possíveis aos olhos e ao natural desenrolar do dia-a-dia de uma criança, devemos evitar os perigos maiores ou mais facilmente acessíveis às crianças e ensina-las a conviver e a proteger-se de todos (incluindo os que evitamos, seja por protecção, seja por eliminação). Ou seja, devemos desde sempre e como primeira atitude, identificar com a criança o perigo e como deve evitá-lo, de seguida, protegê-lo, eliminá-lo ou supervisionar os primeiros contactos.

Por exemplo: eu tenho uma mesa de tampo de vidro na sala (baixinha e de apoio aos sofás). Ainda os meus pequenos não falavam (mas gatinhavam) quando eu comecei a mostrar-lhes o perigo do vidro e de como deveriam fazer antes de se levantarem (quando andavam a gatinhar perto da mesa). Desde cedo que aprenderam a olhar primeiro para cima e/ou colocar a mão por cima da cabeça antes de pensarem em levantarem-se e até identificarem onde se encontrava o vidro. Não protegi, nem retirei, mas ensinei-os e supervisionei sempre enquanto faziam as suas primeiras “gatinhadas” pela sala. Não evitei todas as cabeçadas, mas nunca houve nenhuma de maior relevo… E a cada cabeçada retomávamos os ensinamentos. Sem com isso entrar na transferência errada de responsabilidades, ou seja, começar com: “olha o que tu fizeste! já não te disse que não podes fazer isto!”.

Não esquecer nunca que a responsabilidade é do ADULTO! O que podemos/devemos fazer é (depois de acalmar/cuidar da criança), voltar ao início: “olha aqui isto é perigoso! Podes fazer dói-dói! Deves fazer sempre assim”… Mostrar, alertar e supervisionar as vezes seguintes!